O DESENVOLVIMENTO NATURAL DA IGREJA –

Resumo do Livro

 (P. Rudi Tünnermann)

Na introdução, o autor argumenta que as igrejas têm experimentado pouco crescimento, porque usam as forças humanas, ao invés de usar as  forças do crescimento natural que Deus deu à igreja. Em outras palavras, precisamos liberar os mecanismos automáticos de crescimento com os quais Deus equipou a Igreja, em vez de tentar fazer tudo por esforços próprios.

Como esforço próprio ele caracteriza o modelo tecnocrático e o modelo espiritualizante. O modelo tecnocrático supervaloriza as instituições, programas e métodos; por outro lado, o modelo espiritualizante menospreza a instituição, os programas e os métodos, considerando importantes apenas as questões “puramente espirituais”.

O potencial natural do crescimento aumenta quando diminuímos ao máximo as “resistências do ambiente”. O potencial natural é a capacidade inerente de qualquer organismo vivo de se reproduzir por sim mesmo. Nossa tarefa não é produzir o crescimento da igreja, mas liberar o potencial de crescimento da igreja que Deus lhe deu (1 Co 3.6). O DNI procura responder esta questão através da aplicação do conceito bíblico “por si mesmo”, expresso em Mc 4.26-29. Esta parábola de Jesus mostra o que podemos e o que não podemos fazer para produzir o crescimento; fala de um processo automático de crescimento. Jesus ensina que esse processo de crescimento é obra de Deus. Esta é a verdadeira essência do crescimento da igreja.

No que diz respeito ao crescimento da igreja, o DNI trabalha com três conceitos chave:

  1. Princípios: contrário ao procedimento pragmático de que os fins justificam os meios.
  2. Qualidade: não visa a quantidade, mas considera a qualidade de vida da igreja como a chave para o seu desenvolvimento.
  3. Forças de crescimento: o DNI não tem o objetivo de fazer a igreja crescer, mas liberar as forças de crescimento com as quais Deus edifica a sua igreja.

No que diz respeito aos modelos de igreja, o DNI trabalha com conceitos chave, o paradigma da bipolaridade da igreja. A Bíblia ensina que a igreja é, ao mesmo tempo, organização e organismo. O “Paradigma DNI” trabalha com esta bipolaridade da igreja, seus elementos institucionais e espirituais, seu polo organizacional e orgânico.

 

Capítulo 1 – OITO MARCAS DE QUALIDADE

O autor começa afirmando a importância de diferenciar entre modelos e princípios. Ele diz que são os princípios que precisam ser observados e não os modelos.  Como princípios ele entende “aquilo que vale para todas as igrejas da terra” (p.16). Em seguida Schwarz descreve o Projeto Internacional de Pesquisa, através do qual chegou aos oito princípios para o Desenvolvimento Natural da Igreja e ao critério do crescimento, a qualidade. O passo seguinte do autor é descrever cada uma das oito marcas de qualidade da igreja.

  • Liderança capacitadora: Em vez de fazer a maior parte do trabalho na igreja, estes pastores e líderes investem o seu tempo em capacitar outras pessoas para o ministério (discipulado, delegação e multiplicação de lideranças). Eles não usam seus colaboradores como “ajudantes”, mas ajudam cada cristão a alcançar a plenitude; capacitam, motivam, acompanham para que se tornem aquilo que Deus tem em mente para eles. Estes líderes entendem que a sua capacitação deve ser usada como um instrumento para capacitar os outros e levá-los à maturidade espiritual. Esta atitude, diz Schwarz, leva “por si mesmo” ao crescimento e a “auto-organização” da igreja. Neste contexto, o que revelou ser mais importante para estes líderes não é a formação teológica, mas a disposição para receber ajuda de fora (veja diagramas da p. 25).
  • Ministérios orientados pelos dons: Deus é quem determina o que cada cristão pode fazer melhor. E quando alguém descobre o seu dom, não trabalha pelas próprias forças, mas o Espírito Santo trabalha através dele. O trabalho orientado pelos dons é a única possibilidade concreta de colocar em prática o conceito bíblico, redescoberto pelos reformadores: o “sacerdócio universal dos crentes”. Nenhuma das oito marcas tem maior influência sobre a vida do membro e a vitalidade da igreja que os dons sendo exercidos nos ministérios apropriados. As dificuldades para o exercício dos dons espirituais esbarram tanto no modelo tecnocrático quanto da espiritualização. No modelo tecnocrático primeiro se estabelece o ministério e depois se procura a pessoa para preencher o “cargo”. No modelo da espiritualização a dificuldade ou resistência está em ajustar o dom à estrutura da igreja, por considerar o dom uma coisa “sobrenatural” que não se enquadra na estrutura da igreja (ver diagramas p. 27).
  • Espiritualidade contagiante: A pesquisa mostrou que a espiritualidade entusiasmada e contagiante dos cristãos não depende de um estilo piedoso de vida nem de certas práticas espirituais, mas sim se os crentes vivem a sua fé com paixão e entusiasmo. A pesquisa observou que quanto mais legalismos houver numa igreja menos paixão e entusiasmo é expresso pelos seus membros. O legalismo mata a espontaneidade, porque engessa a vida. O que determina a espiritualidade contagiante não é a luta pela doutrina correta, mas se “a fé é o encontro real com Jesus Cristo”. Dois elementos fundamentais para uma espiritualidade contagiante são uma vida de oração e o uso pessoal da Bíblia como uma experiência inspiradora e motivadora (veja os diagramas das p. 28-29).
  • Estruturas eficazes: O que se tem em mente aqui não é a estrutura de prédios, mas como a igreja se organiza para funcionar. Schwarz diz que para os espiritualizantes, as estruturas eclesiásticas não são espirituais; para os tecnocratas, elas fazem parte da essência da igreja. O exemplo mais eficaz de estruturas funcionais é o princípio de lideranças por ministérios (veja diagrama p. 30). Estruturas eficazes são aquelas que possibilitam a multiplicação constante do trabalho; onde os líderes estão continuamente formando novas lideranças. Segundo esta mentalidade, qualquer coisa que inibe esta promoção da vida é modificada ou eliminada.              A pesquisa comprovou que o tradicionalismo é um dos principais fatores negativos para o crescimento e a qualidade das igrejas. O tradicionalismo está no polo oposto das estruturas eficazes. A pesquisa mostrou que a metade das igrejas em declínio são atingidas por este problema (veja diagrama da p.31). Estruturas eficazes estão a serviço da vida e do organismo vivo da igreja. O ato da criação do ser humano mostra que a estrutura morta se torna vida no momento em Deus sobre o seu hálito de vida no ser que ele havia criado. As estruturas das igrejas, sem o sopro do Espírito não têm poder de gerar vida.
  • Culto inspirador: A pesquisa revelou que o culto como uma experiência inspiradora atrai pessoas e é um dos elementos para o crescimento da igreja. Estes cultos “por si só” atraem as pessoas. Por inspirador se deve entender a inspiração que vem do Espírito de Deus. O Espírito Santo, quando age, produz consequências sobre a organização e o ambiente do culto. A conclusão é que cultos inspirados atraem pessoas (veja o diagrama da p.33). Isso não significa esmero e zelo no preparo de todos os elementos do culto, buscando a excelência em tudo.
  • Grupos pequenos – células: um princípio universal de crescimento da igreja é a multiplicação dos grupos pequenos ou células. Grupo pequeno que alcança seus objetivos precisa: relacionar os textos bíblicos à realidade das pessoas; onde os participantes podem falar de seus problemas; é um lugar natural para exercitar os dons espirituais; os grupos pequenos produzem naturalmente novos líderes; é o contexto acontece o discipulado e a vivência de todos os aspectos da vida cristã. Nos grupos pequenos ocorre a transferência de vida e não só transferência de conceitos. A pesquisa mostrou que nas igrejas em crescimento e que têm alta qualidade, a participação nos grupos é mais importante que a participação dos cultos. Quanto maior a igreja, mais necessários são estes “grupos” (veja os diagramas das p. 34-35). A pesquisa revelou que a Marca de Qualidade que mostrou a maior correspondência com o crescimento da igreja é a Marca de Qualidade “Grupos Pequenos”. Assim, se uma das Marcas de Qualidade deve ser considerada a mais importante, então deve ser a dos “Grupos Pequenos”. Em vista dessa importância, todo o material desenvolvido pelo DNI está elaborado de tal forma para poder ser aplicado na estrutura dos grupos pequenos.
  • Evangelização orientada para as necessidades: a pesquisa constatou que a evangelização eficaz é aquela que está orientada para as necessidades das pessoas, pois ela leva em alta consideração os questionamentos e as necessidades dos incrédulos. É preciso pensar aqui em necessidades de qualquer tipo. Por outro lado, na evangelização manipulativa as necessidades dos incrédulos são ignoradas e a evangelização ocorre em forma de pressões sobre o incrédulo.  A evangelização voltada para o sucesso não pode ser um princípio de crescimento da igreja. A pesquisa ainda revelou que a ideia de que “cada cristão é um evangelista” está equivocada, pois somente cerca de 10% dos crentes têm esse dom (veja diagrama da p. 37). O que a Bíblia ensina é que todos os crentes devem usar seus dons para o cumprimento da grande comissão. É tarefa de cada cristão servir aos incrédulos, com quem tem relacionamento, com os dons que Deus lhe deu, de modo  que essa pessoa ouça o evangelho e venha a seguir Jesus. A evangelização orientada para as necessidades acontece no contexto do serviço aos outros, dentro dos relacionamentos cotidianos.
  • Relacionamentos marcados pelo amor fraternal: Existe uma altíssima correspondência entre a capacidade de amar de uma igreja e seu potencial de crescimento. As pessoas não querem discursos sobre o amor, querem experimentá-lo no dia a dia. A experiência de rir na igreja e as visitas nas refeições são fatores que ajudam nos relacionamentos marcados pelo amor. Schwarz diz que “Amor verdadeiro dá à igreja um brilho, produzido por Deus, muito mais eficaz do que programas de evangelísticos que dependem exclusivamente da comunicação verbal”. A pesquisa mostrou também a alta correspondência entre a amizade e a capacidade de amar (veja no diagrama da p. 39). Schwarz diz: “Sempre que o amor é deixado de lado o desenvolvimento da igreja em outras áreas está bloqueado num ponto crucial”.

Para o crescimento qualitativo e quantitativo, todas as oito marcas precisam ser consideradas e funcionar de modo interdependente. O segredo para o crescimento é o desenvolvimento das oito marcas de qualidade. Nenhuma marca pode faltar! O crescimento numérico é consequência natural disso. As igrejas que crescem  têm alta qualidade em todas as oito Marcas de Qualidade. Igrejas em declínio estão abaixo do valor médio de qualidade (veja diagrama da p. 41). Pela primeira vez podem-se comprovar cientificamente três coisas:

  1. Igrejas que crescem têm qualidade superior mensurável (pode ser verificado).
  2. Crescimento numérico pode ser alcançado também de outras formas (o que não significa que estas igrejas sejam sadias).
  3. Há uma regra, sem exceção: toda igreja com índice de qualidade acima de 65 pontos é uma igreja que cresce.

Portanto, o ponto de partida para o trabalho na igreja precisa ser qualitativo; é preciso focar na qualidade da igreja. Isto porque a pesquisa comprovou e a Bíblia ensina que todo organismo sadio se desenvolve e cresce. O DNI se concentra nas razões espirituais e estratégicas que estão por trás do crescimento. Os resultados da pesquisa do DNI comprovam que o “princípio do por si mesmo” é muito mais que uma bela teoria. É um princípio que funciona na prática, pois foi criado por Deus. Os resultados, portanto, comprovam que qualidade gera quantidade; que a estratégia que se ocupa primeiro com a qualidade da igreja é o melhor ponto de partida; que a falta de crescimento indica problemas na qualidade. Tudo isso mostra que alvos de crescimento numérico são inapropriados. Alvos podem motivar pessoas apenas se estiverem nas áreas nas quais possam ser influenciadas pessoalmente. A diferenciação entre aquilo que podemos fazer e aquilo que não podemos fazer traz consequências práticas. Significa que devemos colocar nossos esforços no âmbito daquilo que pode ser feito por nós e não no âmbito daquilo que só Deus pode fazer. Portanto, é preciso estabelecer alvos qualitativos. Fazemos isso ao planejar o aumento das Marcas de Qualidade da igreja. Quando estabelecemos estas metas precisamos fazê-lo em áreas nas quais podemos exercer influência (veja exemplo na p. 47).

Ao final deste capítulo Schwarz mostra que igrejas grandes não são, necessariamente, sadias.                                    Para comprovar esta afirmação ele compartilha alguns resultados da pesquisa:

  • Igrejas que estão perdendo membros tem, em média, o dobro de membros das igrejas que estão crescendo.
  • Igrejas pequenas crescem, em média, 13%, enquanto igrejas grandes crescem apenas 3%.
  • Em termos de correspondência negativa sobre o crescimento, igrejas grandes estão em terceiro lugar em termos de pior influência sobre o crescimento, próximo da teologia liberal e do tradicionalismo.
  • A taxa de crescimento da igreja diminui à medida que a igreja se torna grande. Uma igreja pequena conquista, em média, tantas pessoas quanto uma igreja grande. O que significa que duas igrejas pequenas conquistam o dobro de pessoas de uma igreja grande.
  • A eficácia evangelística das mini-igrejas é 1.600% maior que das mega-igrejas.
  • Em mini-igrejas, 46% dos membros estão engajados em grupos pequenos, enquanto que nas mega-igrejas apenas 16%.

Há, todavia, exceções a esta regra. Há igrejas grandes que continuam crescendo com saúde.

Capítulo 2 –  O FATOR MÍNIMO

O “Fator Mínimo” é a área de maior dificuldade que a igreja enfrenta. As marcas de qualidade menos desenvolvidas de uma igreja são as que mais bloqueiam o seu crescimento.  A estratégia do fator mínimo é apenas uma ajuda para organizar as prioridades dentro do cronograma do desenvolvimento da igreja. Não quer dizer que o fator mínimo é a marca de qualidade mais importante. É o aspecto mais frágil da igreja e, por isso, é  preciso concentrar mais energia no ponto mais fraco. As pesquisas do DNI revelaram que a tentativa de elevar o nível da qualidade da igreja têm melhores resultados quando se trabalha prioritariamente no Fator Mínimo. A exemplificação do barril nos ajuda a entender este princípio de ordenação das prioridades de ação. A aduela mais curta define quanta água vai caber no barril. Exemplificando: as aduelas são as marcas de qualidade, aquilo que nós podemos “construir/fazer”, de acordo com o plano de Deus; a água é o agir de Deus. Se Deus não fizer chover por melhor que seja o barril ele será inútil; todavia, se chover e não tivermos um barril em bom estado, vamos reter pouca água. A qualidade da estrutura da igreja, portanto, é de suma importância. Com a ilustração do barril temos a representação da relação entre o agir de Deus e a nossa responsabilidade na edificação da igreja. Outra ilustração que nos ajuda neste sentido é o princípio da adubação da terra. Por meio da análise do solo é possível saber quais os nutrientes estão faltando. Quando os nutrientes do solo estiverem em equilíbrio, então está em condições de produzir bem “por si mesmo”. Mas isso ainda não é suficiente. Há coisas que o homem não poderá providenciar: um ambiente apropriado de chuva, sol e temperatura apropriada para o tipo de planta. Assim como na vida, o princípio lógico é que utilizemos dos recursos disponíveis para vencer os pontos frágeis. No DNI, utilizamos os pontos fortes para aumentar a qualidade do Fator Mínimo. Fazemos isso ao observar quatros aspectos:

  • Como as Marcas de Qualidade mais fortes da igreja podem ser utilizadas para com eficácia para trabalhar com o Fator Mínimo?
  • Tomar consciência de qual é a cultura espiritual da igreja (o modo de viver a fé em Jesus) e utilizá-la como uma força.
  • Considerar os fatores contextuais da igreja, como sua localização, infra estrutura, perfil social dos membros como um recurso disponível.
  • Tomar consciência que todos os dons espirituais necessários para o cumprimento da Grande Comissão já estão presentes na igreja. Eles só precisam ser descobertos. É certo que não podemos “distribuir” dons espirituais, mas certamente podemos auxiliar para que cada cristão descubra e conheça os dons que Deus lhe deu. Quanto mais nos aproximarmos do plano de Deus, mas vamos experimentar a auto-organização da igreja segundo o projeto de Deus. Não importa em qual Marca de Qualidade estejamos trabalhando, o conceito dos dons espirituais é de importância fundamental (ver exemplos da p. 61).

O DNI mostra que demos tomar cuidado para não seguirmos modelos de crescimento de igreja, mas observamos os princípios de crescimento por trás daquela experiência.

Capítulo 3 – SEIS FORÇAS DE CRESCIMENTO

Schwarz menciona como o modelo tecnocrático prejudica o desenvolvimento da igreja e como, aplicado à igreja, não funciona, pois esquece que a igreja é um organismo vivo e não uma estrutura mecânica. Para que a igreja funcione é necessário que sejam aplicadas a ela os princípios que agem na natureza. São seis os princípios:

  • A interdependência: na natureza todos os elementos estão interligados. A forma como as partes estão interligadas no todo é mais importante do que cada parte individualmente. A natureza é um sistema, assim como a família e a igreja. Todos os elementos se influenciam e se regulam mutuamente. Essa dinâmica mostra que a igreja, ao trabalhar na melhora de uma das Marcas de Qualidade aumentará também o índice das demais. Este princípio precisa resultar em estruturas interdependentes da igreja, que possibilitem a multiplicação contínua (veja ilustração no diagrama da p. 71).
  • A multiplicação: uma árvore não cresce para sempre, mas se multiplica, produzindo inúmeras outras árvores. O fruto da macieira não é a maçã, mas uma nova macieira. Isso mostra que o crescimento numérico ilimitado não é encontrado na natureza. Em algum momento o crescimento orgânico chega ao seu limite natural. É o principio “natural” da multiplicação que permeia toda a criação de Deus. Um exemplo disso é a multiplicação das células (pequenos grupos). Na pesquisa do DNI a maior correspondência com o crescimento qualitativo e quantitativo da igreja está na multiplicação constante dos grupos pequenos (veja o diagrama). O princípio da multiplicação influencia todas as áreas da vida igreja: o fruto do grupo não mais um participante, mas um novo grupo; o fruto de uma igreja é uma nova igreja; o fruto de um líder não é um seguir, mas um novo líder; o fruto de um evangelista não é um convertido, mas um evangelista. A igreja se perpetua pela multiplicação. Por isso, não deveria ser objetivo de uma igreja tornar-se uma mega-igreja. Dificilmente haverá sinal maior de saúde de uma igreja que a sua disposição e capacidade de gerar novas igrejas. O que é a Grande Comissão senão o chamado de Jesus a contínua multiplicação?
  • A transformação de energia: na natureza não há perda de energia, mas a sua transformação constante para reutilização ou benefício (exemplo: vacina, surfista). Este é o princípio menos conhecido e aplicado na igreja. Na Bíblia este princípio aparece várias vezes no modo como o evangelho era difundido (At 17 e 18). No decorrer da História da Igreja, o sangue dos mártires se transformou na semente o evangelho. A compreensão desse princípio traz consequências muito benéficas na forma como lidamos com as crises. Uma pergunta apropriada, dentro desse princípio é: “Como posso utilizar esta situação para o benefício do Reino de Deus?” (Rm 8.28). O mesmo acontece quando a evangelização é orientada para as necessidades das pessoas. Nesse caso, as suas necessidades (em todos os sentidos e áreas) são levadas a sério e a energia contida nesta realidade é utilizada para aproximar a pessoa de Deus, a fim de que experimente o poder transformador de Deus. Outro exemplo disso é o envolvimento dos novos convertidos na evangelização. Isso porque os “novos convertidos” ainda têm muitos contatos com o mundo, ainda falam a língua do mundo e ainda têm padrões de pensamento parecidos com os seus amigos não cristãos, portanto, têm um vínculo (veja diagrama). As igrejas que crescem aproveitam estas forças para o crescimento do Reino de Deus.
  • Sustentabilidade – os efeitos múltiplos: na natureza, a folha da árvore se transforma em húmus e nutre a própria árvore para que esta produza mais folhas. Na medida em que conseguirmos aplicar este princípio na igreja poderemos usufruir dos efeitos múltiplos das ações. No discipulado, enquanto Jesus ensinava as multidões, os discípulos o acompanhavam e aprendiam. O ponto central desse princípio consiste no fato de utilizarmos os resultados do trabalho da igreja em energia que, ao mesmo tempo, contribui para a manutenção deste trabalho. Uma boa exemplificação desse princípio é a capacitação de um vice-líder (na AME: “líder em formação”) ou formação de liderança.
  • A simbiose: A simbiose é a associação de duas plantas ou de uma planta e um animal em cuja relação ambos são beneficiados. A natureza nos ensina o princípio da convivência: nem monopólio, nem concorrência, mas simbiose, onde as necessidades são mutuamente supridas. O entendimento e aplicação deste princípio desempenha um papel muito importante na vida da igreja. Uma estrutura de igreja caracterizada pela simbiose, o que interessa é que as necessidades pessoais de cada membro sejam atendidas, assim como a igreja seja edificada. De igual forma, ajuda no entendimento de que unidade não significa monopólio, mas interdependência. Exemplo: os dons e talentos devem ser usados na igreja de modo complementário e não de concorrência. Quando uma igreja funciona pelo princípio da simbiose todos ganham, sempre.
  • A frutificação: A natureza ensina que todo ser vivo produz fruto. Como organismo vivo, a igreja vai produzir frutos. Quando isto não acontece há risco de morte e extinção da espécie. A funcionalidade da natureza é autorreguladora e visa a frutificação. Este também é um princípio mencionado por Jesus (Mt 7.16s). Uma vez que frutos, pelos padrões bíblicos e biológicos, são visíveis, é fácil reconhecer, por meio deles, a qualidade do organismo que os produz. Portanto, devemos examinar regularmente se há frutos visíveis do trabalho que estamos realizando. O controle da frequência dos cultos é um meio muito simples para fazer esta verificação (veja o diagrama da p. 80).

O segredo do DNI não está no nome das oito marcas, mas nos adjetivos empregados para cada uma das marcas. Todas as igrejas têm liderança, mas nem todas têm uma liderança “capacitadora”. Todas as igrejas têm ministérios, mas nem todos são orientados ou organizados de acordo com os dons de seus membros. O que conecta as oito Marcas de Crescimento é o seu qualificativo, o modo como funcionam, como conseguem liberar as forças de crescimento da igreja. É preciso aprender a liberar os processos automáticos de crescimento na igreja; perceber que os empecilhos são oportunidades para o crescimento. Estas forças de crescimento de Deus, descobertas pelo DNI, são o contrário da prática usual das igrejas. Boa parte das igrejas trabalha com paradigmas errado falsos e métodos errados. Por isso lutam com muita dificuldade e não crescem. Deveríamos tomar cuidado de explicar o não crescimento da igreja apenas como resistência à mensagem da cruz. Portanto, precisamos aprender a pensar de acordo com os princípios da natureza. Isso requer um novo modo de pensar. As seis forças da natureza não nos ensinam apenas como agir, mas especialmente como reagir, de modo a estimular o crescimento. A maioria das lideranças das igrejas não está habituada a trabalhar de forma interativa ou interdependente. Na essência, tudo se resume numa única questão: como podemos criar condições para que o princípio de crescimento “por si mesmo”, com o qual deus equipou a igreja, seja liberado? Esse modo de “fazer a igreja crescer” gera mais qualidade, alegria e alívio. Todo o trabalho acaba fluindo mais naturalmente e com muito menos sobrecarga. Muitas coisas simplesmente acontecem! O propósito do DNI é que estas seis forças da natureza se transformem na visão de trabalho das igrejas.

Capítulo 4 – UM NOVO PARADIGMA

O DNI não é apenas mais um método de crescimento da igreja, mas uma visão totalmente nova de como fazer a igreja crescer. Apresenta uma nova forma de pensar. A pesquisa revelou que a maior dificuldade das igrejas em aceitar o DNI são os falsos paradigmas acerca da visão da igreja: o modo de pensar tecnocrático e o espiritualizante. Estes dois modos de pensar são, por assim dizer, opostos. Todavia, a Bíblia apresenta uma visão da igreja muito diferente. Assim como em toda a criação de Deus, a relação criativa entre dois polos é o segredo da auto-organização da natureza (eletricidade, magnetismo, homem-mulher). A lei da bipolaridade diz que a uma ação sempre corresponde uma reação. A relação entre os polos libera um fluxo de energia que tem influência direta sobre a sua auto-organização. Por exemplo, a reprodução humana se auto-organiza pela força de atração dos sexos (os dois polos). É a liberação do potencial natural de crescimento. A Bíblia apresenta a igreja como tendo esta mesma bipolaridade; isto é, com dois polos. Um é o polo dinâmico da igreja, sua imagem orgânica; o outro é o polo estático, sua imagem técnica, institucional (1 Pe 2.5; Ef 2.21; 4.12; 1 Co 3.9). No NT os dois polos coexistem e se complementam, eles não se excluem. Os dois polos estão numa relação dupla: o polo dinâmico sempre cria a organização (estrutura, instituição, regras), enquanto o polo estático  estimula o organismo, o corpo. Esta relação saudável e dinâmica é gerada pelo agir do espírito Santo. Enquanto este círculo estiver funcionando sem nenhuma ruptura, a relação entre os dois polos é altamente criativa. Estas são igrejas sadias que crescem (veja o diagrama das p. 89).

Todavia, esta relação dinâmica entre os dois polos da igreja pode ser quebrada ao se concentra em apenas um dos polos. Quando o polo estático é absolutizado nasce o modelo tecnocrático, institucional de igreja (monismo). Quando o polo dinâmico é absolutizado nasce o modelo espiritualizando, que menospreza qualquer forma de organização, focando apenas nos elementos espirituais da igreja (dualismo). O monismo trata os dois polos como sendo apenas um, enquanto o dualismo desconecta um dos dois polos (exemplo: som estéreo). Os dois modelos apresentam perigo para a saúde da igreja. Veja o diagrama da p. 91.

O Paradigma tecnocrático representa a mentalidade da autossuficiência. Sacralismo, dogmatismo, clericalismo são suas palavras chaves.  Vivem na ilusão de que aquilo que fazem no campo institucional garante o campo dinâmico (espiritual) da igreja.

O Paradigma da espiritualização o dualismo e a contraposição são a sua base: espírito x matéria; organismo x organização; ação divina x ação humana. As instituições são secundárias e, em alguns casos, identificadas com o mal. Os planejamentos, as regras, os programas e as instituições não têm valor. Esta forma de ver e entender a igreja ignora a obra da criação de Deus, pois soprou o seu espírito na matéria morta, gerando um corpo com vida.

As consequências destes falsos paradigmas é que produzem discordâncias e atritos desnecessários nas igrejas. Isto porque não entendem o princípio da bipolaridade: a relação dinâmica entre os elementos estáticos e os orgânicos da igreja. Devemos concentrar todos os esforços para que a instituição igreja (polo estático) esteja vivendo os princípios da natureza de Deus da igreja (polo orgânico). Esta relação vai estimular automaticamente a vivência dinâmica da igreja e, por sua vez, produzir igrejas cada vez mais sadias (veja o diagrama da p. 97). A utilização destes falsos paradigmas no decorrer da História da Igreja teve consequências teológicas sérias, gerando muitos desvios nocivos (veja diagrama da p. 99)! O princípio adotado pelo DNI como o “paradigma DNI” ou “Teologia do DNI” foi denominado pelo Christian Schwarz como “princípio da reforma”. Segundo este pensamento, todo e qualquer modo da igreja se organizar deve estar a serviço da igreja como corpo de Cristo.

A utilização do paradigma da bipolaridade da igreja, evidentemente, também traz as suas consequências práticas. Como a Bíblia ensina, é preciso integrar quantidade e qualidade, o pensamento orgânico e o pensamento técnico, institucional. Isso significa que não podemos produzir crescimento numérico, mas podemos aumentar as Marcas de Qualidade da igreja por meio de medidas e ações concretas, as quais vão remover obstáculos, fortalecer aspectos frágeis e, assim, liberar as forças de crescimento da igreja. O movimento em espiral crescente é uma representação gráfica dessa forma de pensamento (veja os diagramas das p. 101 e 103). A Bíblia ensina e qualquer agricultor sabe o que ele deve fazer e o que não pode fazer para obter uma boa colheita. Assim como o agricultor, devemos investir todos os esforços para que o polo estático (institucional) esteja em concordância com os princípios de Deus, somente assim o polo orgânico poderá se desenvolver de forma saudável e sem empecilhos. O pragmatismo[2], por outro lado, quer colher bons frutos sem cultivar uma árvore saudável. Por isso, o DNI rejeita o procedimento meramente pragmático, mas orienta suas ações numa estratégia orientada por princípios. Não é suficiente apenas produzir frutos, é preciso verificar se estes frutos estão sadios. É isso que Jesus ensinou! Schwarz cita seis razões pelas quais o pragmatismo não serve para a edificação da igreja:

  1. A essência do pragmatismo é a rejeição de qualquer princípio.
  2. A absolutização do sucesso. A norma é o sucesso.
  3. A visão de curto prazo; o imediatismo.
  4. A cegueira para a lógica de
  5. O pragmatismo contradiz o princípio bíblico de que um fruto bom é produzido por uma árvore sadia. Não há como produzir fruto bom de forma artificial.
  6. O pragmatismo é, por definição, oportunista. Pauta sua conduta segundo as circunstâncias, subordina seus princípios a interesses momentâneos.

Capítulo 5 – A ESPIRAL DE CRESCIMENTO DO DNI

A espiral de crescimento apresenta o DNI como um processo cíclico de crescimento, formando assim uma espiral de crescimento contínuo. Há três dimensões diferentes neste processo de crescimento: o nível da informação, da aplicação e da transformação (p.109). O objetivo é manter as três dimensões em “equilíbrio radical”, empenhando-se ao máximo em cada uma das dimensões. Para tanto, utiliza-se da “bússola das três cores”, em cujo cerne estão três características:

  1. Sempre comunicar o todo do ensino bíblico acerca de um tema específico.
  2. Ajuda a identificar o ponto de partida para cada situação específica, para avançar na direção em que precisam.
  3. Assinala os perigos específicos que estão relacionados a cada uma das três dimensões (cores).

A implementação do DNI é um processo de longo prazo! É pensado em um formato cíclico em seis fases. Esta estratégia de um processo cíclico de ações traz consigo duas consequências:

  1. Permite que a igreja inicie o processo na fase que melhor corresponda à sua necessidade.
  2. Os ciclos se tornarão parte de um processo contínuo de crescimento qualitativo e quantitativo (um ciclo completo = 12 meses).

Cada fase do ciclo corresponde a um princípio bíblico fundamental. Isso significa que não é uma opção implementar os princípios, mas uma questão de obediência a Deus.

  • A fase da observação: reduzir o foco para a observação das experiências. Isso requer parar e refletir. Veja! Observe! Só isso! É ocasião para perceber como as coisas “são” ao redor, o que realmente acontece. Compartilhar sentimentos e percepções.
  • A fase do teste: é a mais apropriada para realizar uma pesquisa pera verificar o Perfil da igreja. Onde estão os frutos? Significa avaliar o estado atual da igreja.
  • A fase do entendimento: avalia as informações colhidas na observação e no teste e as disponibiliza para uso. Implica em entender por que as coisas são da forma como são. Implica em ações prática de obediência à vontade de Deus.
  • A fase de planejamento: requer que tomemos decisões e tem dois objetivos: definir metas qualitativas; remover os obstáculos ao crescimento.
  • A fase de execução: é hora de implantar o que foi planejado! A Bíblia nos ensina que nossas ações devem estar focadas no crescimento do reino de Deus.
  • A fase de vivência: experimentar a vida no Reino.

O DNI procura implementar os princípios do crescimento da Igreja na força do Espírito Santo!

[1]     Christian A. SCHWARZ. O Desenvolvimento Natural da Igreja – Um guia prático para as oito marcas de qualidade essenciais das igrejas saudáveis. Curitiba : Editora Evangélica Esperança, 3ª ed., 2010. 127p.

[2] Pragmatismo: prega que a validade de uma doutrina é determinada pelo seu bom êxito prático (sucesso).