O DESENVOLVIMENTO NATURAL DA IGREJA

Visão Geral e Introdutória

Seminário para a liderança da AME – 02.07.16

(P. Rudi Tünnermann)

Objetivo deste seminário:

  • Conhecer as características de uma igreja saudável.
  • Conhecer os recursos para o desenvolvimento de uma igreja saudável.
  • Dar continuidade ao processo de revisão do modo de pensar e de ser igreja.

 

As características de uma igreja saudável

Responde a pergunta: o que devemos fazer?

  • Liderança capacitadora:
  • Ministérios orientados pelos dons:
  • Espiritualidade contagiante:
  • Estruturas eficazes:
  • Culto inspirador:
  • Grupos pequenos:
  • Evangelização orientada para as necessidades:
  • Relacionamentos marcados pelo amor fraternal:

 

As forças disponíveis para o desenvolvimento de uma igreja saudável

Responde a pergunta: como devemos fazê-lo?

  • Interdependência:
  • Multiplicação:
  • Transformação de energia:
  • Sustentabilidade: efeitos múltiplos
  • Simbiose: necessidades mútuas supridas:
  • Frutificação:

 

DNI = 8 Marcas Qualidade  +  6 Forças Crescimento

PRIMEIRA PARTE

 

INTRODUÇÃO

O DNI se orienta a partir de três questões fundamentais:

  • Quem é Deus?
  • Quem é a Igreja?
  • Como cresce o Reino de Deus?

Três perguntas que precisamos responder.

 

 

I – Deus é o centro da fé, Deus é um Deus vivo e pessoal, que se relaciona de um modo pessoal

  1. Crer implica experimentar:
  • O único meio para conhecer Deus é através de um relacionamento pessoal. Conhecer, na Bíblia, não é um ato teórico e abstrato, mas uma experiência profundamente pessoal. Conhecer a Deus é a mesma coisa que ter comunhão com ele.
  • Deus diz: “Eu sou o que sou” – Êx 3.14. Deus é indefinível. Deus não é um conceito. Deus é aquele cuja natureza é revelar-se do modo como deseja dar-se a conhecer. O Deus da Bíblia é um Deus condescendente.  Ele tem interesse fervoroso em que as pessoas aceitem a sua oferta de amor.
    • “O Verbo (logos)[1] se fez carne” – Jo 1.14; 1 Jo 1.1-3. Deus se torna pessoa humana. Deus se mostra. Ele se revela. Deus não é um princípio.
    • Jesus é a expressão exata de quem Deus é (Hb 1.3); Jesus é a imagem do Deus invisível (Cl 1.15). Deus é Jesus!
    • A encarnação de Jesus é a rejeição radical de toda a abstração de Deus. O Deus da Bíblia é um Deus histórico. Em Jesus Deus se torna realidade em nosso tempo.
  1. Deus se encontra conosco de três maneiras diferentes:
  • na criação, Deus deixa a sua assinatura.
  • na salvação, Deus mostra que ele é o pai de Jesus Cristo.
  • na vida pessoal, pelo Espírito Santo experimentamos aquilo que Cristo fez para nós (Jo 16.5-15).
  • O que importa é que experimentemos Deus destas três maneiras.
  • A Bíblia ensina que Deus requer uma resposta de nossa parte a cada uma das formas dele encontrar-se conosco: ele é o meu criador, o meu salvador, ele mora em mim, age em mim e através de mim.

Enquanto Deus não for o “meu Deus”, a revelação de Deus ainda não alcançou o seu propósito.

 

  1. Consequências da compreensão equivocada de Deus:

A compreensão errada de Deus produz – na igreja – o mesmo efeito que a contaminação do sangue produz no corpo[2]. Quando não entendemos a natureza de Deus não compreenderemos a natureza da igreja. Sempre que uma das três dimensões da revelação de Deus é deixada na sombra, a experiência de Deus é incompleta e, portanto, também a compreensão de Deus.

O DNI utiliza a manifestação de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo como a sua bússola teológica e prática. Isto porque, as pessoas são atraídas pelo Deus vivo. Igrejas que vivenciam a manifestação sadia do Deus Triúno desenvolvem um campo magnético, que atrai pessoas[3]. Cada uma das formas como Deus se revela e se manifesta tem importância fundamental para a vida da igreja. Portanto, a compreensão correta de Deus é decisiva para a vivência sadia da fé em comunidade e para a correta compreensão de quem é a igreja.

Os verdadeiros obstáculos para o desenvolvimento saudável da igreja

encontram-se na visão impessoal e abstrata de Deus!

II – A igreja é, ao mesmo tempo, um organismo vivo e uma organização

  1. A compreensão errada de Deus leva a um conflito de posições no modo de entender e viver a fé na igreja:
    • a organização e o funcionamento da igreja é o mais importante;
    • a vida espiritual na igreja é o mais importante.

 

  1. O aspecto da igreja como organismo e como organização precisa estar integrado.
  • A pregação do Evangelho faz nascer a ekklesia – Ef 2.1-22.
  • A ekklesia requer uma estrutura – Ef 4.11-16
  • A estrutura deve estar a serviço da ekklesia – Ef 4.11s.

Enquanto os dois aspectos da igreja estiverem nesta relação circular,  o resultado será altamente criativo e sadio. Este é o ensino bíblico:

  • 1 Pe 2.4-10: “pedras vivas na edificação de uma casa espiritual…”.
  • 1 Co 3.5-11: somos “lavoura de Deus e edifício de Deus”.
  • Ef 2.19-22 e 4.11-16: “família de Deus, edifício, santuário, corpo…”.

 

  1. Os resultados práticos da inter-relação destes dois aspectos da igreja têm consequências diretas sobre a saúde da igreja:
    • integra a relação entre qualidade e quantidade.
    • integra o pensamento orgânico com pensamento técnico.

 

  1. A organização da igreja deve ser constantemente testada para verificar sua utilidade para o seu desenvolvimento como Corpo de Cristo.

 

Uma vez compreendida esta dinâmica funcional da igreja, descobrimos duas coisas muito importantes:

  • que existem meios para fazer a igreja crescer;
  • que existem limites do que pode e do que não pode ser produzido na igreja.

III – Como cresce o Reino de Deus (Mc 4.26-28; 1 Co 3.5-9 )?

  • Todo agricultor sabe o que ele pode e o que não pode fazer para a sua plantação se desenvolver de modo sadio para obter uma boa colheita.
  • A Bíblia nos ensina que existe uma dinâmica entre a ação divina e a ação humana no trabalho do Reino de Deus.
  1. O que podemos e devemos fazer para a igreja crescer?
  2. O que não podemos fazer para a igreja crescer?

 

Devemos investir todos os esforços possíveis para que a organização institucional da igreja esteja em concordância com os princípios de Deus. Desta forma, o Corpo de Cristo poderá se desenvolver de forma saudável e sem empecilhos.

 

AS CARACTERÍSTICAS DE UMA IGREJA SAUDÁVEL

Estas oito “Marcas de Qualidade” contêm princípios de crescimento universais e verificáveis. Cada uma destas “Marcas” necessita da liberação das seis forças de crescimento para o seu desenvolvimento. Além disso, cada “Marca” indica a sua área de atuação, por meio do seu adjetivo. Este “segredo do sucesso”, descoberto pela pesquisa do Instituto do DNI, é aquilo que a Bíblia nos ensina.

  • Liderança capacitadora:
  • Nas igrejas que crescem pastores e líderes, ao invés de fazer a maior parte do trabalho na igreja, investem a maior parte do seu tempo em capacitar outras pessoas para o ministério.
  • Nas igrejas que crescem pastores e líderes não usam seus colaboradores como “ajudantes”, mas ajudam cada membro da igreja a alcançar a plenitude; capacitam, motivam, acompanham para que se tornem aquilo que Deus tem em mente para eles.
  • Os líderes entendem que a sua capacitação deve ser usada como um instrumento para capacitar os outros e levá-los à maturidade espiritual.
  • O que revelou ser mais importante para estes pastores não é a sua formação teológica, mas a disposição para receber capacitação contínua e ajuda de fora.
  • Ministérios orientados pelos dons:
  • Deus é quem determina o que cada cristão pode fazer melhor.
  • A tarefa dos líderes é ajudar os membros a descobrir os dons que Deus lhes deu, encontrando ou criando um ministério que combine com estes dons.
  • Quando alguém descobre o seu dom, não trabalha mais pelas próprias forças, mas o Espírito Santo trabalha através dele, possibilitando realizar coisas extraordinárias.
  • O trabalho orientado pelos dons é a única possibilidade concreta de colocar em prática o conceito bíblico do “sacerdócio de todos dos crentes”, viabilizando que cada membro da igreja tenha também uma tarefa.
  • Nenhuma das oito Marcas de Qualidade tem maior influência sobre a vida pessoal do membro e a vitalidade da igreja que os dons sendo exercidos nos ministérios apropriados.
  • Quando os dons são exercidos num equilíbrio de sabedoria, envolvimento e poder a igreja funciona conforme o plano de Deus.
  • Espiritualidade contagiante:
  • Quando se trata de crescimento de igreja a questão central não é o seu estilo, mas o grau em que a fé é vivida com comprometimento, paixão e entusiasmo.
  • Quanto mais legalismos houver numa igreja menos paixão e entusiasmo será expresso pelos seus membros. O legalismo mata a espontaneidade, porque engessa a vida.
  • O que determina a espiritualidade contagiante não é a luta pela doutrina correta, mas se “a fé é o encontro real com Jesus Cristo”.
  • Dois elementos fundamentais para uma espiritualidade contagiante são uma vida de oração e o uso pessoal da Bíblia como uma experiência inspiradora e motivadora. A quantidade não é decisiva, mas a qualidade desta experiência.
  • O segredo da espiritualidade contagiante é ser fiel à Bíblia, guiado pelo Espírito e voltado para o mundo. Tudo isso em equilíbrio.
  • Estruturas eficazes:
  • O que se tem em mente aqui não é a estrutura de prédios, mas como a igreja se organiza para fazer o corpo de Cristo crescer.
  • Estruturas eficazes estão a serviço da vida do Corpo de Cristo. O ato da criação do ser humano mostra que a estrutura morta do corpo se tornou viva no momento em Deus lhe soprou seu hálito de vida. A estrutura da igreja, sem o sopro do Espírito não tem poder de gerar vida.
  • Estruturas eficazes são aquelas que possibilitam a multiplicação constante, onde os líderes estão continuamente formando novas lideranças.
  • Neste tipo de mentalidade, qualquer coisa que inibe a promoção da vida é modificada ou eliminada.
  • O tradicionalismo é um dos principais fatores que emperra o crescimento e a qualidade da igreja. O tradicionalismo está no polo oposto das estruturas eficazes. Metade das igrejas em declínio é atingida por este problema.
  • O exemplo mais eficaz de estruturas funcionais é a organização pelo princípio de lideranças por ministérios.
  • Estruturas eficazes possibilitam e promovem três movimentos importantes para a saúde da igreja: para cima, para dentro e para fora. Estruturas eficazes ajudam as pessoas a ter experiências pessoais com Deus, fortalecem a comunhão entre os membros e estão voltados para o serviço no mundo.
  • Culto inspirador:
  • Por inspirador se deve entender a inspiração que vem do Espírito de Deus. O Espírito Santo, quando age, produz consequências sobre a organização e o ambiente do culto.
  • Quando a participação no culto é uma experiência inspiradora “por si só” atrai pessoas. Este é um critério que diferencia claramente igrejas que crescem das que não crescem.
  • O culto inspirador é um dos elementos para o crescimento da igreja.
  • Isso não significa falta de esmero e zelo no preparo de todos os elementos do culto. A busca por excelência em tudo é fundamental.
  • As formas de culto em igrejas saudáveis podem ser muito diferentes, mas há um denominador comum: há excelente qualidade na liturgia, no ensino e no louvor. O segredo é melhorar a qualidade em cada uma das três áreas e esforçar-se para alcançar equilíbrio entre elas.
  • Grupos pequenos integrais – células:
  • Um princípio universal de crescimento da igreja é a multiplicação de grupos pequenos integrais ou células.
  • A célula precisa:
    • relacionar os textos bíblicos à realidade das pessoas;
    • possibilitar que os participantes possam falar de seus problemas;
    • ser um lugar natural para exercitar os dons espirituais;
    • ser um espaço de capacitação natural de novos líderes;
    • ser um contexto onde acontece o discipulado e a vivência de todos os aspectos da vida cristã.
  • Quanto maior a igreja, mais necessária é a célula. Grupos pequenos não são um hobby que pode ser dispensado, se necessário. Não! É da essência da igreja oferecer espaços para que os membros encontrem esta forma de comunhão que os uma.
  • Nas igrejas em crescimento e que têm alta qualidade, a participação na célula é mais importante que a participação dos cultos.
  • Dentre as oito Marcas de Qualidade, a que mostrou a maior correspondência com o crescimento da igreja foi a Marca “Grupos Pequenos”. Assim, se uma das Marcas de Qualidade deve ser considerada a mais importante, então deve ser a dos “Grupos Pequenos”.
  • Células são um “microcosmo da igreja”; são a igreja de base. Portanto, tudo o que caracteriza a igreja como um todo deve ser buscado na célula. As células integrais atingem as cabeças, as mãos e os corações de seus participantes. A intensidade e a qualidade destes três aspectos depende do envolvimento pessoal de cada participante.
  • Sendo as células um “microcosmo da igreja”, todas as demais “Marcas de Qualidade”, que se aplicam à igreja como um todo, devem ser aplicadas também à vida da célula.
  • Evangelização orientada para as necessidades:
  • Evangelização eficaz é aquela que está orientada para as necessidades das pessoas, pois leva em alta consideração os questionamentos e as necessidades dos incrédulos.
  • A evangelização orientada para as necessidades acontece no contexto do serviço aos outros, dentro dos relacionamentos cotidianos.
  • É tarefa de cada cristão servir aos incrédulos com os dons que Deus lhe deu, de modo que essa pessoa ouça o evangelho e venha a seguir Jesus. Evangelizar não é tarefa apenas de quem tem o dom de evangelismo. É necessário o exercício de vários dons diferentes para que a evangelização aconteça de modo eficaz.
  • O segredo e o sucesso da evangelização orientada para as necessidades consiste na prática equilibrada da oração (de intercessão), no exercício do testemunho e do acompanhamento pessoal. Isso só é possível quando cada membro do Corpo de Cristo investe os seus dons.
  • Relacionamentos marcados pelo amor fraternal:
  • Existe uma altíssima correspondência entre a capacidade de amar de uma igreja e seu potencial de crescimento por meio da evangelização. As pessoas não querem discursos sobre o amor, querem experimentá-lo no dia a dia. Amor vivido de verdade confere mais poder de alcance à igreja.
  • A experiência de rir na igreja, as visitas e refeições juntas são fatores que ajudam nos relacionamentos marcados pelo amor.
  • O amor verdadeiro dá à igreja um brilho, produzido por Deus, muito mais eficaz do que programas evangelísticos, que dependem exclusivamente da comunicação verbal.
  • Existe uma alta correspondência entre a amizade e a capacidade de amar. Sempre que o amor é deixado de lado, o desenvolvimento da igreja está bloqueado num ponto crucial em outras áreas.
  • Os ingredientes do amor cristão, segundo a Bíblia, estão firmados em três pilares: justiça, verdade e graça. Nosso desafio é buscar o equilíbrio entre estes três aspectos. O crescimento no exercício do amor frutifica melhor no contexto de um grupo pequeno.

Para o crescimento qualitativo e quantitativo da igreja, todas as oito marcas precisam ser vivenciadas, pois tudo funciona de modo interdependente. O segredo para o crescimento saudável da igreja é o desenvolvimento equilibrado das oito marcas de qualidade. Nenhuma marca pode faltar! O crescimento numérico é consequência natural disso. As igrejas que crescem  têm alta qualidade em todas as oito Marcas de Qualidade. Igrejas em declínio estão abaixo do valor médio de qualidade (50 pontos).

 

Pela primeira vez, na História da Igreja, podem-se comprovar cientificamente três coisas:

  1. Igrejas que crescem têm qualidade superior que pode ser verificada.
  2. Crescimento numérico da igreja pode ser alcançado também de outras formas (o que não significa que estas igrejas sejam sadias).
  3. Há, porém, uma regra, sem exceção: toda igreja com índice de qualidade acima de 65 pontos é uma igreja que cresce.

 

As Marcas de Qualidade: a estratégia de trabalho do DNI

A questão central é: o que devemos fazer?

  • O ponto de partida para o trabalho na igreja precisa ser qualitativo; é preciso focar na qualidade da igreja. A Bíblia ensina, a natureza mostra – e a pesquisa comprovou – que todo organismo sadio se desenvolve e cresce.
  • O desenvolvimento natural da igreja se concentra nas razões espirituais e estratégicas que estão por trás do crescimento. Os resultados da pesquisa comprovam que o “princípio do crescimento por si mesmo” é muito mais que uma bela teoria. É um princípio que funciona na prática, pois foi criado por Deus. Os resultados comprovam que qualidade gera quantidade.
  • A estratégia que se ocupa, em primeiro lugar, com a qualidade da igreja é o melhor ponto de partida. Portanto, é preciso estabelecer alvos qualitativos. Fazemos isso ao planejar o aumento das Marcas de Qualidade da igreja. Quando estabelecemos estas metas precisamos fazê-lo em áreas nas quais podemos exercer influência (exemplos na p. 47).
  • A falta de crescimento indica problemas na qualidade. Tudo isso mostra que alvos de crescimento numérico são inapropriados.
  • A diferenciação entre aquilo que podemos fazer e aquilo que não podemos fazer traz consequências práticas. Significa que devemos colocar nossos esforços no âmbito daquilo que pode ser feito por nós e não no âmbito daquilo que só Deus pode fazer.

 

 

A estratégia do fator mínimo

Exemplos:

  1. O barril, com suas aduelas.
  2. O solo, com a necessidade dos nutrientes apropriados (nitrogênio, fósforo, potássio e calcário).
  3. Planta num vaso (nutrientes, localização, água, tamanho do vaso).
  4. Corrente com seus elos.

O elemento mais fraco decide o sucesso de todo o empreendimento!

  • O “Fator Mínimo” é a área de maior dificuldade que a igreja enfrenta.
  • As marcas de qualidade menos desenvolvidas de uma igreja são as que mais bloqueiam o seu crescimento. A estratégia do fator mínimo é apenas uma ajuda para organizar as prioridades, dentro do cronograma do desenvolvimento da igreja.
  • Não quer dizer que o “Fator Mínimo” seja a marca de qualidade mais importante. É o aspecto mais frágil da igreja e, por isso, é preciso concentrar mais energia no ponto mais fraco.
  • A tentativa de elevar o nível da qualidade da igreja têm melhores resultados quando se trabalha prioritariamente no Fator Mínimo.
  • A exemplificação do barril nos ajuda a entender este princípio de ordenação das prioridades de ação. A aduela mais curta define quanta água vai caber no barril.
  • A qualidade da estrutura da igreja, portanto, é de suma importância. Com a ilustração do barril temos a representação da relação entre o agir de Deus e a nossa responsabilidade na edificação da igreja.
  • Outra ilustração que nos ajuda neste sentido é o princípio da adubação da terra. Por meio da análise do solo é possível saber quais os nutrientes estão faltando. Quando os nutrientes do solo estiverem em equilíbrio e o ambiente estiver favorável, então o solo está em condições de produzir bem “por si mesmo”. Mas isso ainda não é suficiente. Há coisas que o homem não poderá providenciar: um ambiente apropriado de chuva, sol e temperatura apropriada para o tipo de planta. Assim como na vida, o princípio lógico é que utilizemos os recursos disponíveis para vencer os pontos frágeis.
  • Utilizamos os pontos fortes para aumentar a qualidade do Fator Mínimo.

 

SEGUNDA PARTE

AS FORÇAS DISPONÍVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA IGREJA SAUDÁVEL

O adjetivo de cada uma das Oito Marcas de Qualidade procura expressar a Força de Crescimento que está por detrás de cada uma destas Marcas.

A igreja, como um organismo vivo, requer que ela seja tratada como um organismo e não como uma estrutura mecânica. Sendo assim, para que a igreja, como um organismo vivo, produza os frutos que lhe são próprios é necessário aplicar a ela os princípios que agem nos organismos vivos, na natureza.

O primeiro aprendizado muito importante que colhemos da natureza é que crescer leva tempo.

São seis os princípios:

  • A interdependência:
  • Na natureza todos os elementos estão interligados.
  • A forma como as partes estão interligadas no todo é mais importante do que cada parte individualmente.
  • A natureza é um sistema, assim como a família e a igreja. Todos os elementos se influenciam e se regulam mutuamente.
  • Essa dinâmica mostra que a igreja, ao trabalhar na melhora de uma das Marcas de Qualidade aumentará também o índice das demais.
  • Este princípio precisa resultar em estruturas interdependentes da igreja, que possibilitem a multiplicação contínua.

Ensino: Toda ação gera efeitos múltiplos.

  • A multiplicação:
  • Uma árvore não cresce para sempre, mas se multiplica, produzindo inúmeras outras árvores.
  • O fruto da macieira não é a maçã, mas uma nova macieira. Isso mostra que o crescimento numérico ilimitado não é encontrado na natureza. Em algum momento o crescimento orgânico chega ao seu limite natural.
  • É o principio “natural” da multiplicação que permeia toda a criação de Deus. Um exemplo disso é a multiplicação das células (pequenos grupos).
  • Na pesquisa do Instituto do DNI a maior correspondência com o crescimento qualitativo e quantitativo da igreja está na multiplicação constante dos grupos pequenos.
  • O princípio da multiplicação influencia todas as áreas da vida igreja:
    • o fruto do grupo não mais um participante, mas um novo grupo;
    • o fruto de uma igreja é uma nova igreja;
    • o fruto de um líder não é um seguidor, mas um novo líder;
    • o fruto de um evangelista não é um convertido, mas mais um evangelista.
  • A igreja se perpetua pela multiplicação. Por isso, não deveria ser objetivo de uma igreja tornar-se uma mega-igreja. Dificilmente haverá sinal maior de saúde de uma igreja que a sua disposição e capacidade de gerar novas igrejas. O que é a Grande Comissão senão o chamado de Jesus a contínua multiplicação?

Ensino: A multiplicação é diferente de adição, pois gera um novo organismo.

  • A transformação de energia:
  • Na natureza não há perda de energia, mas a sua transformação constante para reutilização ou benefício (vacina, jiu-jitsu).
  • Energia inimiga é transformada em energia amiga (perseguição, adversidade). No decorrer da História da Igreja, o sangue dos mártires se transformou na semente o evangelho (At 17 e 18).
  • A compreensão desse princípio traz consequências muito benéficas na forma como lidamos com as crises.
  • Uma pergunta apropriada, dentro desse princípio é: “Como posso utilizar esta situação para o benefício do Reino de Deus?” (Rm 8.28).
  • O mesmo acontece quando a evangelização é orientada para as necessidades das pessoas. Nesse caso, as necessidades são levadas a sério e a energia contida nesta realidade é utilizada para aproximar a pessoa de Deus, a fim de que experimente o poder transformador de Deus.
  • Outro exemplo disso é o envolvimento dos novos convertidos na evangelização. Isso porque os “novos convertidos” ainda têm muitos contatos com o mundo, ainda falam a língua do mundo e ainda têm padrões de pensamento parecidos com os seus amigos não cristãos, portanto, têm um vínculo.
  • As igrejas que crescem aproveitam estas diferentes realidades para o crescimento do Reino de Deus.

Ensino: Muitas forças contrárias não podem ser mudadas ou eliminadas, mas podem ser transformadas em forças favoráveis.

  • Sustentabilidade – os efeitos múltiplos:
  • Na natureza, cada organismo tem dentro de si a “semente” para a sua própria reprodução e manutenção.
  • Na natureza, a folha da árvore se transforma em húmus e nutre a própria árvore para que esta produza mais folhas.
  • No discipulado, enquanto Jesus ensinava as multidões, os discípulos o acompanhavam e aprendiam.
  • O ponto central desse princípio consiste no fato de utilizarmos os resultados do trabalho da igreja em energia que, ao mesmo tempo, contribui para a manutenção deste trabalho.
  • Na AME, uma boa exemplificação desse princípio é a capacitação de um “líder em formação” ou de um novo discipulador.

Ensino: A mesma energia deve produzir – simultaneamente – o resultado planejado e a automanutenção daquele resultado (o fruto e a semente).

  • A simbiose:
  • A simbiose é a associação de dois organismos em cuja relação ambos são beneficiados (relação ganha-ganha).
  • A natureza nos ensina o princípio da convivência: nem monopólio, nem concorrência, mas simbiose, onde as necessidades são mutuamente supridas.
  • Numa estrutura de igreja caracterizada pela simbiose, o que interessa é que as necessidades pessoais de cada membro sejam atendidas, assim como a igreja seja edificada.
  • Unidade não significa monopólio, mas interdependência. Exemplo: os dons e talentos devem ser usados na igreja de modo complementário e não de concorrência.
  • Quando uma igreja funciona pelo princípio da simbiose todos ganham. Sempre!

Ensino: É preciso aprender a valorizar a riqueza da diversidade.

  • A frutificação – funcionalidade:
  • A natureza ensina que todo ser vivo produz fruto.
  • Como organismo vivo, a igreja deve produzir frutos. Quando isto não acontece há risco de morte e extinção da espécie.
  • Este também é um princípio mencionado por Jesus (Mt 7.16s).
  • Devemos examinar regularmente se há frutos visíveis do trabalho que estamos realizando.
  • O controle da frequência dos cultos é um meio muito simples para fazer esta verificação.

Ensino: Os frutos revelam a qualidade do organismo que os produz.

 

SÍNTESE  E  CONCLUSÃO

Síntese:

  • O segredo do desenvolvimento natural da igreja não está no nome das oito marcas, mas nos adjetivos empregados para cada uma das marcas, nos quais está a força para o crescimento saudável da igreja.
  • Todas as igrejas têm liderança, mas nem todas têm uma liderança “capacitadora”. Todas as igrejas têm ministérios, mas nem todos os ministérios são organizados de acordo com os dons de seus membros.
  • O que conecta as Oito Marcas de Crescimento é o seu qualificativo; é o modo como funcionam, como conseguem liberar as forças de crescimento da igreja. É preciso aprender a liberar os processos automáticos de crescimento na igreja; perceber que os empecilhos são oportunidades para o crescimento.
  • Precisamos aprender a pensar de acordo com os princípios da natureza. Isso requer um novo modo de pensar. Deveríamos tomar cuidado de explicar a razão do não crescimento da igreja apenas como resistência à mensagem da cruz.
  • As seis forças da natureza não nos ensinam apenas como agir, mas especialmente como reagir a cada situação, de modo a estimular o crescimento. A maioria das lideranças das igrejas não está habituada a trabalhar de forma interativa ou interdependente.
  • Na essência, tudo se resume numa única questão: como podemos criar condições para que o princípio de crescimento “por si mesmo”, com o qual Deus equipou a igreja, seja liberado.
  • Esse modo de “fazer a igreja crescer” gera mais qualidade, alegria e alívio. Todo o trabalho acaba fluindo mais naturalmente e com muito menos sobrecarga. Muitas coisas simplesmente acontecem!
  • O nosso desafio, como AME, é que estas seis forças da natureza, vinculadas às Oito Marcas de Qualidade, se transformem na nossa visão de trabalho.

A  espiral de crescimento:

informação, aplicação e transformação

  • A espiral de crescimento apresenta o desenvolvimento natural da igreja como um processo cíclico de crescimento contínuo. Há três dimensões diferentes neste processo de crescimento: o nível da informação, da aplicação e da transformação.
  • A implantação da estratégia de trabalho do desenvolvimento natural da igreja é um processo de longo prazo!
  • Cada fase do ciclo corresponde a um princípio bíblico fundamental. Isso significa que não é uma opção implantar os princípios, mas uma questão de obediência a Deus.
  • A fase da observação: reduzir o foco para a observação das experiências. Isso requer parar e refletir. Veja! Observe! Só isso! É ocasião para perceber como as coisas “são” ao redor, o que realmente acontece. Compartilhar sentimentos e percepções.
  • A fase do teste: é a mais apropriada para realizar uma pesquisa pera verificar o Perfil da igreja. Onde estão os frutos? Significa avaliar o estado atual da igreja.
  • A fase do entendimento: avalia as informações colhidas na observação e no teste e as disponibiliza para uso. Implica em entender por que as coisas são da forma como são. Implica em ações práticas de obediência à vontade de Deus.
  • A fase de planejamento: requer que tomemos decisões e tem dois objetivos: definir metas qualitativas; remover os obstáculos ao crescimento.
  • A fase de execução: é hora de implantar o que foi planejado! A Bíblia nos ensina que nossas ações devem estar focadas no crescimento do reino de Deus.
  • A fase de vivência: experimentar a vida no Reino.

O desenvolvimento natural da igreja procura implantar os princípios do crescimento da Igreja na força do Espírito Santo!

[1]     Para o mundo da época, Logos é o princípio do mundo, eterno e imutável. O evangelista João utiliza este conceito para falar de Jesus. Ele diz: Jesus não é o Logos, pelo contrário, o Logos é Jesus. Acaba-se assim toda a especulação.

[2]     Cristian A. SCHWARZ, Mudança de Paradigma na Igreja: como o desenvolvimento natural da Igreja pode transformar o pensamento teológico, p. 49.

[3]     Cristian A. SCHWARZ, Realce as cores do mundo com o Desenvolvimento Natural da Igreja: experimentando tudo o que Deus planejou para a sua vida, p. 48.