O Que é Amor?

                                                                                                                                                                                            Por Jonathan Storment 1

Algumas das palavras mais poéticas já escritas sobre o amor não vem de um casamento nem de uma estória romântica. Elas vêm de uma argumentação acalorada sobre a igreja.

Eu fiz muitos casamentos em minha vida, e seguidamente me pedem para incorporar as belas palavras de Paulo em  1 Coríntios 13. O amor é paciente, o amor é gentil, o amor não se orgulha…

Eu sei o porquê de querermos ler isso em um casamento, mas penso que precisamos ler essas palavras no contexto para o qual elas foram escritas: a igreja, com pessoas das quais nem sempre gostamos, em momentos de intenso desacordo. Se você está lendo 1 Coríntios, quando você chega ao capítulo 13, talvez sinta como se houvesse uma quebra de raciocínio em relação ao texto anterior, como se Paulo estivesse apenas colocando um pouco de açúcar em seu argumento. Mas, penso que Paulo fez algo brilhante aqui. Ele está se dirigindo a uma comunidade que está lutando com o fato de alguns membros estarem usando seus dons espirituais para justificar seu elitismo. Então ele escreve um trecho reconhecido pelo título “Diversidade na Unidade” [1 Co 12.12.31a] 2 , e imediatamente após isso começa essa passagem sobre amor dizendo “Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente”  [1 Co 12.31b] 3 . Nas últimas semanas, estive falando sobre o novo livro de Scot 4 , “A Fellowship of Differents” (“Uma Comunidade de Diferentes”) e hoje gostaria de enfatizar um de seus maiores pontos, um ponto sobre o qual não vejo mais ninguém falar a respeito: nós não sabemos o que é amor.

Scot diz que o principal problema enfrentado pelos cristãos ao falar sobre o amor se deve ao fato de usarem a definição dada pelo dicionário. O dicionário define como as palavras são usadas em inglês [em nosso caso português] 5 , não o que elas significavam nos tempos bíblicos. Perceba o que o dicionário diz: “o amor é um sentimento intenso de afeição profunda”. Sim, isso é o que nossa cultura pensa quando a palavra amor é usada.

Amor se refere a emoções e afeições. Mas essa definição do dicionário, que é 100% moldada por nossa cultura ocidental, é mera sombra do que a Bíblia quer dizer por amor.

Ao invés disso, Scot insiste que nós devemos “definir amor na Bíblia ao observar Deus amar Israel, seu Filho e a igreja – de fato, toda a criação”.

O amor não é primeiramente uma emoção, o amor é um verbo. Meu amigo Josh Ross recentemente me mostrou que o único livro no Novo Testamento que não faz uso da palavra amor (nem uma vez) é o livro de Atos. Isso me incomodou por um tempo, até que me dei conta de que talvez a razão por traz deste incômodo se deve ao fato de que Atos está muito ocupado com o amor em ação enquanto nós estamos muito ocupados em falar sobre ele.

Scot define o amor de acordo com o Deus da Bíblia como tendo quatro elementos:

  • É uma aliança, ou um compromisso firme, com alguém.
  • É um compromisso firme de estar com alguém.
  • É um compromisso firme de estar por alguém.
  • É um compromisso firme de estar junto com este alguém buscando ser semelhante a Cristo.

Este é o esboço bíblico de como o amor se parece. E cada ponto é essencial. Você não pode pular para o ponto quatro, a menos que tenha investido muito tempo fazendo os primeiros três. Você não pode falar para a vida de outros a menos que tenha se comprometido a estar com e por eles de formas tangíveis.

É por isso que Paulo interrompe seu discurso sobre pessoas agindo de forma elitista na igreja com uma definição muito poética e, ainda assim, prática de amor. Porque ele sabia que ninguém quer ser contra o amor, mas ele também sabia que não muitas pessoas entendem o que ele significa.

Pense sobre isto. Por mais que amemos a definição de amor de Paulo, por mais deslumbrante e poética que ela nos pareça, será que realmente parecemos assim?

O amor é paciente? Espere! Eu poderia parar de escrever aqui. Nós somos a mais apressada, frenética e ansiosa sociedade da história humana.

O amor é bondoso? Não no feed do meu Facebook.

O amor não se ira facilmente? Mas, é assim que nós ganhamos discussões, Paulo!

O amor não se orgulha, não procura seus interesses? Eu acho revelador que nos primeiros cem anos de Cristianismo o amor não era a principal virtude para os pais e mães espirituais, mas humildade era. Isso porque eles sabiam que o único caminho para ser gente amorosa é tonar-se o tipo de gente que não se pré-ocupa consigo.

De repente o amor deixa de ser uma conversa genérica e passa a se tornar algo que requer uma vida sacrificial. Algo que os cristãos chamariam de discipulado.
E isto é algo importante para nós, cristãos, entendermos, porque, em minha experiência, nós amamos o amor… até sermos chamados a amar alguém de quem não gostamos, alguém que é diferente de nós, que não compartilha de nosso sistema de crenças, ou no mesmo nível, ou com a mesma aplicação. Nós amamos o amor desde que estejamos falando primeiramente sobre emoções, afeições e ideias, e não sobre pessoas reais, pessoas de verdade.

Nas palavras de Scot:

“Para Paulo o amor é central. Era central porque ele conhecia os desafios da vida cristã daqueles que agora estavam em comunhão uns com os outros nas igrejas nas casas que estavam se espalhando pelo Império Romano. A única maneira de prosseguir era se cada pessoa aprendesse a amar os outros. Escravos romanos e comerciantes não estavam acostumados a sentar a mesa e orar com Judeus praticantes da Torah, judeus kosher não estavam acostumados a ler as Escrituras com prostitutas e trabalhadores imigrantes – e Paulo pensava que esta era a maior
visão do modo de vida de Deus!”

Pense sobre 1 Coríntios 12 e 13 novamente. Paulo dá um tempo de escrever sobre essa situação específica para dar ao seu povo uma visão de amor e vida no Reino de Deus, uma visão que de forma geral não é concretizada hoje, porque nós esquecemos que o amor, o verdadeiro amor cristão, envolve o duro trabalho de nos tornarmos pessoas amorosas.

Mas, tornar-se esse tipo de pessoa vale qualquer sacrifício que tenhamos que fazer.

Porque o mundo precisa de uma definição melhor de amor, precisa de um exemplo melhor de amor.

Porque o amor, o verdadeiro amor cristão, nunca falha.

http://www.patheos.com/blogs/jesuscreed/2015/07/15/what-is- love-jonathan- storment/. Acessado em 18.08.2017. Traduzido por Thales Jean Schwingel
1 Jonathan Storment é pastor da Highland Church em Abilene, Texas.
2 Nota do Tradutor.
3 Nota do Tradutor.
4 Scot McKnight é um teólogo estadunidense, estudioso no Novo Testamento, autor de muitos livros, dentre os quais “O Credo de Jesus” publicado pela Editora Esperança.
5 Nota do tradutor.