A Ceia nos evangelhos

Uma das tradições mais antigas da igreja é a celebração da Santa Ceia, também conhecida como a Ceia do Senhor. Como o próprio nome sugere, a Ceia for instituída pelo próprio Senhor Jesus poucas horas antes de ele ser entregue as autoridades que o condenariam à morte. É uma celebração carregada de significado.
Encontramos o relato da ceia do Senhor em todos os quatro evangelhos (Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-23;       Jo 13.18-30). João nos traz o relato mais diferente. Sua ênfase recai sobre a identificação de Judas, o traidor, como parte do cumprimento das profecias e não traz as palavras de instituição da ceia. Os outros três evangelhos, chamados “sinóticos”, têm em comum Jesus tomando o pão; as ações de graças ou benção; o partir do pão; a declaração “isto é o meu corpo”; Jesus tomando o cálice, com a explicação do relacionamento entre o sangue e a aliança. Essas ações definiram a maneira de instituição da ceia na vida da igreja.
A Ceia como parte Páscoa Judaica A última ceia foi uma refeição de Páscoa de Jesus com os seus discípulos            (Mc 14.12). A Páscoa é a comemoração anual mais importante do povo judeu (Lv 23.5; Nm 9.1-5; 28.16; Dt 16.1-2).
A palavra Páscoa, em hebraico pesah, significa “saltar”, “passar por cima”. Neste dia, os judeus celebravam a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e o êxodo. Na ceia, se comia o cordeiro sacrificado para tal ocasião. O cordeiro relembrava o juízo de Deus sobre os egípcios e a libertação dos israelitas (Ex 12.1-28). Também era tradição cantar os Salmos 113-114 antes da ceia e os Salmos 115-118 após a ceia.
A ceia pascal fazia parte da Festa dos Pães Sem Fermento (Pães Asmos), uma festa judaica que durava sete dias a partir da Páscoa (Lv 23.5-8). Comia-se pão feito sem fermento para recordar que o povo dirigido por Moisés, saiu às pressas do Egito.

 

A Ceia à luz da obra de Cristo

No Novo Testamento, a ceia adquire um significado especial para os cristãos já que é interpretada como figura da obra redentora de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). É significativo que Paulo se refira a Jesus como o Cordeiro pascal (1 Co 5.7).
Na morte de Cristo na cruz, se cumpriu o significado real do sacrifício judaico do cordeiro pascal (Is 53.7).
Nova Aliança Nesta ceia Jesus firmou uma Nova Aliança. O primeiro pacto ou aliança que Deus fez com Israel
se firmou com sangue de animais sacrificados (Ex 24.6-8; conferir também Zc 9.11). A Nova Aliança é firmada por Jesus por meio do seu próprio sangue (Hb 9.18-22). O pão é o seu “corpo” e o vinho é o “sangue da aliança que é derramado em favor de muitos para perdão de pecados”. Essa Nova Aliança foi prometida por meio do profeta Jeremias e alcança em Jesus o seu cumprimento (Jr 31.31-34).

Graça de Deus

A salvação é uma ação de Deus. É uma aliança de graça feita por meio do sacrifício de Jesus. Não temos participação nem mérito algum pela salvação que nos foi conquistada por Cristo. Deus nos deu a salvação a partir de seu próprio amor e misericórdia para com a sua criação. No entanto, é importante lembrarmos que este presente incomparável custou o sangue de seu 2 filho (Hb 10.29; 13.20). Quando fazemos pouco caso disso, tornamos a graça de Deus em graça barata.
A páscoa judaica era uma constante lembrança e proclamação de como Deus redimiu Israel da escravidão egípcia. Da mesma forma, a observância dessa ordenança de Cristo serve de lembrança e de proclamação de como os crentes foram libertos da escravidão do pecado mediante a obra expiatória de Cristo na cruz.
Proclamação da morte do Senhor e esperança para o futuro Por último, Paulo nos lembra que a ceia serve para relembrar a morte de Cristo e a esperança que temos em seu retorno (1 Co 11.26).
A prática da Ceia de acordo com o Apóstolo Paulo Paulo fala sobre a ceia do Senhor a partir do ponto de vista prático e missionário (1 Co 11.17- 34). Neste texto, Paulo fala sobre o significado da ceia e traz algumas advertências quanto à
maneira correta de celebrá-la. Pela instrução dada por Paulo, podemos entender que originalmente os cristãos se reuniam para uma refeição “ágape”, isto é, uma ceia comunitária e, como parte dela, ou no final desta refeição, celebravam a Ceia do Senhor. Mais tarde, por confusões geradas pelos excessos de alguns irmãos, esses dois momentos foram separados.

A instituição da ceia em nossos dias.

Tradicionalmente, o texto que utilizamos como base para a instituição da ceia é 1 Co 11.23b-25:
“O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu -o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cáli ce e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem em memória de mim’”.
Não é necessário que leiamos este ou outro texto bíblico para a instituição da ceia, mas é bom saber onde os encontramos e especialmente saber qual é a sua essência, os pontos chave.
Também não é necessário usar um vocabulário especial. Devemos estar atentos ao contexto em que nos encontramos, para que haja clareza por parte dos participantes a respeito do que está acontecendo.
A ceia no encontro da célula Para realizar a ceia no encontro da célula é necessário suco e pão. Não utilizamos vinho em vista da possibilidade de que alguém com problemas com alcoolismo esteja presente na reunião. A ceia pode ser realizada como um momento especial dentro do encontro, ou ser incorporada em alguma outra refeição conjunta (janta ou almoço, por exemplo), de acordo com a ocasião. Abaixo uma sugestão de celebração:

a. Fazer a distribuição do pão;
b. Ler, ou a parafrasear o texto:
“O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu -o
e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’ ”;
c. Comer o pão;
d. Distribuir o suco;
e. Ler, ou parafrasear o texto:
“Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova
aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem em memória de mim’”.
f. Beber o suco;
g. Orar;