Por Rudi Tunnermann

A conexão do coração

 

O relacionamento é a essência da cultura do Reino de Deus! Um relacionamento focado na conexão do coração. Deus é um Deus de relacionamentos! A Bíblia nos fala de relacionamentos. A Palavra de Deus nos fala de como os relacionamentos funcionam, de onde e de como eles nascem e, muito importante, o que os relacionamentos produzem. A vivência da fé, em última instância, é essencialmente um aprender contínuo a se relacionar: a se relacionar com Deus e com as pessoas. Este aprendizado precisa acontecer nos moldes e com os parâmetros que Jesus vivenciou com o seu Pai.

I – A conexão do coração: os fundamentos

A conexão do coração requer amor e liberdade. A Bíblia diz que o perfeito amor lança fora o medo (1 Jo 4.18). Onde existe medo não existe entrega, confiança, mutualidade. E, por conseguinte, não existe a possibilidade de um vinculo real e verdadeiro. Sem a liberdade de escolha, por outro lado, o amor não é possível, pois um relacionamento imposto não é relacionamento, é uma prisão. Deus nos ama e oferece-nos a possibilidade de nos relacionarmos com Ele, mas nunca nos impõe este seu desejo, pois o amor só é possível no contexto da liberdade de decisão.  Portanto, o cerne da conexão do coração – o vínculo verdadeiro e sincero – acontece apenas onde houver amor verdadeiro e liberdade de escolha. É sobre este mesmo fundamento devemos construir todos os nossos relacionamentos.

II – Dois padrões de relacionamento

Existem basicamente dois tipos de relacionamentos: o relacionamento focado na obediência e o relacionamento focado na decisão.

O relacionamento focado na obediência acontece por meio de uma imposição, que vem como uma força de fora para dentro. Jesus mostrou muito claramente, por meio de seu ministério, que o sistema religioso de seus dias funcionava exatamente desta forma. O que existia era um sistema de regras, que apontava para a punição, no caso de qualquer desobediência. Percebe-se, de forma clara, que a obediência não era uma questão de decisão, mas de obrigação. Infelizmente, podemos perceber hoje este mesmo sistema em pleno funcionamento nas mais diferentes congregações cristãs, o que é uma lástima e um desserviço ao Evangelho do Reino de Deus. Filhos também podem ser educados da mesma forma, sob o mesmo sistema. Os efeitos deste sistema são: controle, intimidação, medo e punição. Neste sistema a alegria, a celebração e a espontaneidade não têm espaço.

O relacionamento focado na decisão acontece no contexto da liberdade de escolha. Este é um relacionamento que nasce de uma força de dentro para fora. Este é um relacionamento que existe em virtude de uma escolha, de uma decisão. É por isso que Jesus apresenta os benefícios e o preço de seguir a ele, com toda a clareza, para que, todas as pessoas que desejarem segui-lo, tenham a opção de decidir se querem fazê-lo ou não. O discipulado, neste sentido, requer uma decisão; não é uma imposição. Entrar no Reino de Deus é, igualmente, um convite, um convite que requer decisão. Deus, o nosso Pai, decidiu relacionar-se conosco nestes parâmetros, dando-nos a liberdade de decidir. Os efeitos deste tipo de relacionamento geram verdadeira liberdade e segurança e, em última instância, paz. Quando os relacionamentos são construídos nesta base fica excluída qualquer atitude de rebeldia e desonra, pois as condutas não são impostas, mas nascem da livre escolha. Este é o padrão do Reino de Deus; é o padrão do relacionamento de Jesus com o seu Pai. A rebeldia e a desonra nascem no terreno das condutas impostas de fora, onde a matéria prima é o controle, a intimidação, o medo e a punição.

III – Os parâmetros bíblicos: a trindade

Fomos criados para a liberdade! No Jardim do Éden havia liberdade. Sim, liberdade para escolher, pois sem a opção de escolha não existe liberdade. A árvore do conhecimento do bem e do mal era a opção de escolha (Gn 2.9, 15-17). Deus estabeleceu com clareza limites e liberdade; comunicou as responsabilidades e as consequências das decisões. Assim, acolher tudo aquilo que Deus havia dito era uma decisão a ser tomada. A obediência era uma escolha. Desde a criação o ser humano deve a liberdade de decidir. Foi também informado de que era responsável pelas suas decisões, as suas consequências. Sim, decisões têm consequências e quem as toma é responsável por elas.

Na cruz Deus mostra que as consequências das decisões erradas não podem ser simplesmente ignoradas. Elas precisam ser encaradas. Não há como fugir do preço das decisões erradas. Todavia, o amor não permite simplesmente excluir quem errou; o amor não permite simplesmente condenar e esquecer. Não! Deus lidou com nosso pecado. O amor procura encontrar uma maneira de reparar o estrago feito. Deus encontrou uma maneira de restaurar o relacionamento rompido. E o mais importante de tudo isso é que Deus está dizendo: apesar de tudo que você fez eu amo você, vem aqui, vamos dar um jeito nisso. O amor atrai. E, ao atrair, cria a possibilidade para a restauração, a cura e o crescimento. Deus não teve medo e não tem medo das escolhas ruins que seus filhos podem fazer, porque quer ensiná-los a viver num relacionamento de amor e liberdade. Assim, quando a igreja ou os pais, por medo das possíveis más escolhas, cercam os membros ou os filhos com um monte de regras, não estão permitindo que um dos mais importantes valores do Reino de Deus, a liberdade, seja desenvolvido. Sim, quando há liberdade, pessoas e filhos erram. Mas é a única maneira de aprender com responsabilidade; é o único caminho para o crescimento de vínculos saudáveis e verdadeiros. A Bíblia diz que na presença do Senhor há liberdade (2 Co 3.17). Deus não quer nos controlar. Ele quer nos guiar, é bem diferente. Assim, se deixar guiar por Deus é mais uma vez uma questão de escolha, de decisão. O cerne da questão, portanto, não está na conduta, mas a quem nós submetemos a nossa vida. O foco de Deus não está na nossa conduta, mas se Ele tem acesso ao nosso coração, se nós lhe submetemos o coração. A cruz nos traz de volta ao estado de liberdade. É por isso que Paulo diz: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5.1).

Quando Jesus, um pouco antes de ascensão, anunciou a vinda do Espírito Santo ele disse: não vou deixar vocês sozinhos, vou mandar outro “consolador”. Entre as várias coisas que Jesus disse acerca do Consolador era que ele iria estar ao lado dos discípulos para apoiá-los, defendê-los, ensiná-los e guiá-los; em momento algum no ensino de Jesus ou no NT aparece a ideia de que o Espírito Santo viria para controlar. O Espírito Santo é um ajudador. Submeter-se a ele, mais uma vez é uma questão de decisão. É neste contexto que entendemos a firmação de Jesus, quando ele diz que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc 17.21), porque é uma força de dentro para fora. O estabelecimento do Reino de Deus acontece a partir do nosso coração.

IV – As consequências:

  • A obediência é uma escolha, não uma imposição. Toda a escolha tem um preço.
  • Deus não nos controla. Ele nos ama e libera! O controle gera rebeldia, disputa de poder e desrespeito.
  • O medo sai quando o amor entra; o amor sai quando o medo entra.
  • Na cultura do Reino, o amor e a liberdade tornam-se as forças motivadoras e substituem o medo.
  • A liberdade requer a necessidade de decidir, escolher. Assim, a liberdade gera responsabilidade.
  • O alvo, portanto, não é o comportamento, mas o coração. O que está no seu coração?

CONCLUSÃO

O relacionamento pautado no amor e na liberdade é o modelo do céu, o modelo do Reino de Deus!

Amor e liberdade geram um ambiente de paz e honra! A honra, como o antídoto contra o desejo de poder, faz nascer a paz! O profeta Isaías proclamou: quando Jesus estender o seu domínio haverá paz sem fim (Is 9.7).